Esse foi um ensaio realizado para a disciplina de Oficina de Leitura e Escrita II. Nele eu conto como aconteceu um acidente sofrido por minha irmã e as suas consequências.
Minha vista estava embaçada, meus olhos custaram a se abrir. Em minhas mãos, um objeto que há quase duas semanas havia se tornado íntimo meu e que refletia minha imagem distorcidamente, transformando-me num ponto borrado que oscilava para frente e para trás, num vaivém de sono e cansaço. Seu peso, que devia ser não mais que dois quilos, nesse momento pareceu-me ter 20, e o contato das minhas mãos com ele era tão frio, que um rápido arrepio chegou a percorrer-me o corpo. Três horas da manhã e lá ia eu mais uma vez, a quarta apenas nessa madrugada, se não me engano, armada com uma aparadeira (objeto com um lado redondo e o outro mais estreito, utilizado nos hospitais para aparar a urina dos pacientes; geralmente é feito de material metálico), com os cabelos totalmente desalinhados e uma cara realmente assustadora, me arrastando por um quarto de hospital. Não, eu não estava doente. Na verdade, estava passando por um estágio forçado de enfermagem. Há onze dias atrás, minha irmã havia sofrido um acidente (uma história ao mesmo tempo cômica e triste, pelos estragos que causou, que vai ser contada mais adiante) e não podia nem mesmo andar. Como ela estava tomando muito soro, a urina era o único jeito para eliminá-lo e ela fazia isso de pelo menos 20 em 20 minutos. Eu, como sua acompanhante, tive que me encarregar de não dormir e atender ao seu “Quero fazer xixi”, a qualquer hora que fosse. Na verdade o meu turno era o da tarde, mas minha mãe precisou se deslocar para uma cidade próxima e eu tive que ficar essa noite no seu lugar. E que noite. Se eu dormi? Não, não consegui. Mas pelo menos pude parar para lembrar, num intervalo de uma urina e outra, o que tinha me levado até ali.
...
“Anne, ladrão!”. Foi só o que eu ouvi antes de ver a minha irmã entrar desesperada no quarto onde eu estava, bater a porta com força e pular da janela. “Pára!”, “Cuidado!”, “Não faça isso!”. Eu não tive pulso na hora, tamanha a rapidez da situação e o próprio medo que ela me fez sentir com o seu desespero. A minha reação foi pular também da janela, com um pouco mais de cautela – ganhei apenas mais um arranhão no joelho –, olhar como ela estava e sair que nem doida pelo prédio, gritando por socorro. Na verdade eu pulei na intenção de levantá-la do chão e depois sairmos correndo, mas quando vi que tinha sido grave, resolvi pedir ajuda. Branca, com os lábios cinza (claro que eu não me vi na hora, me disseram que era assim que eu estava), olhei para cima e avistei os “ladrões perigosos”: minha mãe e um de meus tios, que vieram nos fazer uma visita surpresa. Não sei o que deu na minha irmã naquela hora para fazer algo do tipo, eram só quatro da tarde e o único barulho “ameaçador” que ela ouviu foi o de uma chave dentro da fechadura. Só fiquei imaginando se foi sorte ou azar morarmos justamente no primeiro andar. Prefiro nem pensar no que poderia ter acontecido se morássemos no quinto, por exemplo, se ela teria a mesma coragem, ou o mesmo medo, porque foi por puro terror que ela pulou.
Como era de se esperar, não demorou para o lugar ficar cheio de gente, que se juntava querendo saber o que tinha acontecido – eu nem sabia que tinha tantos vizinhos – e soltar as frases nada apropriadas no momento: “Meu Deus, por que ela fez isso?”, “Imagina se é do décimo!”. E eu desesperada, tentando consolar a minha mãe, que estava se sentindo culpada, uma Nardoni, como ela mesma disse. Na época estava passando na televisão – constantemente, diga-se de passagem - o caso de uma menina que supostamente havia sido jogada do sexto andar pelo pai, Alexandre Nardoni. Obviamente, o caso de minha irmã nada tinha de semelhante a esse, fora a existência de uma janela, mas mãe é mãe e sempre tem a mania de pegar a culpa para si. “Meu Deus, eu quase mato as minhas duas filhas”. Eu não sabia se ria ou chorava de pena dela. Um abraço e um “deixa de bobagem, mãe”, foi só o que eu soube lhe oferecer. Mas pior que tentar consolá-la, foi provar para mim mesma que eu não tive culpa da queda da minha irmã. Porque sim, eu fiquei pensando que na hora da agonia poderia tê-la empurrado para pular logo em seguida e fugir dos “ladrões”, ou simplesmente me esbarrado sem querer. Culpa, ela disse que eu não tive, que se lembrava muito bem de ter pulado sozinha. Mas, independente disso, eu ainda não consegui esquecer a cena dela caindo, seu corpo batendo desajeitado no chão. Foi horrível!
Por sorte, o SAMU chegou quinze minutos após ser acionado e ela foi logo encaminhada para o hospital. Eu pensei que o atendimento seria imediato, que ela enfaixaria os pés e seria liberada logo em seguida. Me enganei. Aquilo ali estava pior que hospital público. Era gente sendo atendida no meio do corredor, umas tantas pessoas esperando sentadas e minha irmã deitada numa maca, também no meio do corredor de emergência. Vez ou outra, ela entrava numa sala para fazer raios x, que eu também fiz, já que também havia pulado da janela. Quando voltava, fazia um escândalo, gritava, pedia para ser medicada e eu sem ter onde colocar a cara de tanta vergonha. Eu até compreendi que a dor deveria estar sendo realmente insuportável, afinal ela estava com os dois pés quebrados, mas confesso que percebi um certo drama na sua cena. Conheço bem a minha irmã e sei o quanto ela é dengosa. Mas isso não vem ao caso. Naquele momento, tudo era válido, pelo menos assim poderiam ficar compadecidos e atendê-la logo. Como tinha trabalho da faculdade, não pude esperar para ver o resultado e voltei para casa. No dia seguinte, comentei com algumas pessoas o que havia acontecido e elas riram, o que eu aceitei passivamente, afinal a história tinha um certo fundo de humor: uma menina de vinte anos se joga desesperadamente da janela, em plena tarde, porque pensou que um ladrão estava invadindo sua casa. E o mais curioso: o ladrão tinha a chave. Confesso que me peguei rindo algumas vezes, contra minha vontade. Mas não achei graça nenhuma quando fui visitá-la no hospital e soube do resultado dos exames: fratura do calcânio (osso do calcanhar) e fratura exposta do pulso esquerdo. Quando entrei no quarto, a vi com as pernas enfaixadas, o braço esquerdo engessado e uma cara de dar dó. Acho que nunca senti amar tanto a minha irmã. E os dezesseis dias passados no hospital me fizeram comprovar isso.
Quando eu poderia imaginar que um dia estaria num leito de hospital, cuidando de minha irmã ainda jovem e agredindo minhas manias de limpeza? Porque eu sou uma pessoa extremamente chata, que acha que qualquer coisa pode estar infectada e que tem nojo de tudo. Entretanto, me vi durantes dias cuidando de minha irmã, pegando sua urina, lavando suas partes íntimas e passando tardes e tardes num hospital, o tipo de lugar mais nojento que existe - sempre lavando as mãos de minuto em minuto, era mais forte do que eu. Mas, para minha própria surpresa, minhas manias e eu eram o de menos naquele momento. Eu só queria saber de minha irmã. E minha vida passou então a resumir-se a faculdade pela manhã, hospital durante a tarde e casa durante a noite. Minha irmã recebia visita a todo instante, mas estar perto nessas horas faz sempre a gente acreditar que tudo pode ficar melhor. E era assim que eu pensava. Como era triste chegar ao hospital e encontrá-la deprimida, se sentindo uma inútil, como ela sempre falava , ver o rosto abatido de minha mãe e em casa presenciá-la chorando todos os dias. E eu também sentia uma enorme vontade de chorar, mas não podia, porque sabia que isso acabaria fragilizando ainda mais as duas. Procurava sempre esboçar um sorriso amarelo, falar alguma palavra de ânimo – embora a maioria delas não convencesse nem a mim mesma -, ou simplesmente fazer companhia, que nesse tipo de situação é importantíssima. Acho que esses foram os dezesseis dias mais arrastados da minha vida. Por fora eu tentava aparentar estar como sempre, mas por dentro estava um caco, sensível, triste.
Desde o segundo semestre do ano passado, eu e minha irmã – Keu, é esse o seu nome - nos mudamos do interior para Salvador, para que pudéssemos fazer faculdade. Nossos pais e irmão continuaram em Catu, a cidade onde crescemos, e então nós moramos sozinhas. Sempre brincamos de uma assustar a outra, fazendo um barulho, fingindo que vinha alguém, mas depois desse dia, resolvemos nunca mais brincar assim. Com o acidente, eu acabei ficando sozinha durante o tempo que ela estava no hospital. Tinha medo vez ou outra, ia logo ver se tinha alguém em casa quando escutava um barulho, mas difícil mesmo estava sendo ficar sem ela. Eu sempre gostei de ficar sozinha no meu canto, tratando de entender minhas próprias idéias, mas já estava enjoada de mim mesma. Minha irmã fazia uma falta imensa, não havia um dia sequer em que eu não pensasse nela e até quem me via no ponto de ônibus percebia que eu estava triste. Desde o dia 16 de abril - se não me engano-, as vezes em que eu ficava realmente feliz eram quando ia vê-la no hospital , até mesmo quando tinha que castigar minha escoliose e carregá-la no colo para tomar banho ou fazer qualquer outra coisa. Ficava pensando que a necessidade faz realmente a especialidade. Eu, uma pessoa que não tem o mínimo dom e muito menos paciência para cuidar de alguém, tive que aprender a fazer isso, ouvir sem reclamar as frases mal-humoradas de minha irmã e, o mais importante, entender que ser sozinho não é nada bom. Descobri de uma maneira muito triste como devemos dar valor às pessoas, pois em um simples instante elas já podem não estar ao nosso lado. E que os irmãos são sim importantes para nós, por mais que muitas vezes neguemos isso. Porém, o difícil de tudo aquilo não era estar aprendendo essa lição, que na verdade me acrescentou muito, mas ter que fingir para os outros e para mim mesma - sou muito cabeça dura e desconfiada e não me sinto à vontade para falar dos meus problemas com ninguém - que estava tudo bem. Afinal, talvez até estivesse. No fundo eu nunca me senti verdadeiramente feliz. Acho que apenas havia encontrado um bom motivo para chorar e afogar as mágoas. Mas naquele momento eu estava sem tempo para pensar nisso. Mais uma vez, minha irmã me chamou : “Anne, quero fazer xixi”.
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“Anne, ladrão!”. Foi só o que eu ouvi antes de ver a minha irmã entrar desesperada no quarto onde eu estava, bater a porta com força e pular da janela. “Pára!”, “Cuidado!”, “Não faça isso!”. Eu não tive pulso na hora, tamanha a rapidez da situação e o próprio medo que ela me fez sentir com o seu desespero. A minha reação foi pular também da janela, com um pouco mais de cautela – ganhei apenas mais um arranhão no joelho –, olhar como ela estava e sair que nem doida pelo prédio, gritando por socorro. Na verdade eu pulei na intenção de levantá-la do chão e depois sairmos correndo, mas quando vi que tinha sido grave, resolvi pedir ajuda. Branca, com os lábios cinza (claro que eu não me vi na hora, me disseram que era assim que eu estava), olhei para cima e avistei os “ladrões perigosos”: minha mãe e um de meus tios, que vieram nos fazer uma visita surpresa. Não sei o que deu na minha irmã naquela hora para fazer algo do tipo, eram só quatro da tarde e o único barulho “ameaçador” que ela ouviu foi o de uma chave dentro da fechadura. Só fiquei imaginando se foi sorte ou azar morarmos justamente no primeiro andar. Prefiro nem pensar no que poderia ter acontecido se morássemos no quinto, por exemplo, se ela teria a mesma coragem, ou o mesmo medo, porque foi por puro terror que ela pulou.
Como era de se esperar, não demorou para o lugar ficar cheio de gente, que se juntava querendo saber o que tinha acontecido – eu nem sabia que tinha tantos vizinhos – e soltar as frases nada apropriadas no momento: “Meu Deus, por que ela fez isso?”, “Imagina se é do décimo!”. E eu desesperada, tentando consolar a minha mãe, que estava se sentindo culpada, uma Nardoni, como ela mesma disse. Na época estava passando na televisão – constantemente, diga-se de passagem - o caso de uma menina que supostamente havia sido jogada do sexto andar pelo pai, Alexandre Nardoni. Obviamente, o caso de minha irmã nada tinha de semelhante a esse, fora a existência de uma janela, mas mãe é mãe e sempre tem a mania de pegar a culpa para si. “Meu Deus, eu quase mato as minhas duas filhas”. Eu não sabia se ria ou chorava de pena dela. Um abraço e um “deixa de bobagem, mãe”, foi só o que eu soube lhe oferecer. Mas pior que tentar consolá-la, foi provar para mim mesma que eu não tive culpa da queda da minha irmã. Porque sim, eu fiquei pensando que na hora da agonia poderia tê-la empurrado para pular logo em seguida e fugir dos “ladrões”, ou simplesmente me esbarrado sem querer. Culpa, ela disse que eu não tive, que se lembrava muito bem de ter pulado sozinha. Mas, independente disso, eu ainda não consegui esquecer a cena dela caindo, seu corpo batendo desajeitado no chão. Foi horrível!
Por sorte, o SAMU chegou quinze minutos após ser acionado e ela foi logo encaminhada para o hospital. Eu pensei que o atendimento seria imediato, que ela enfaixaria os pés e seria liberada logo em seguida. Me enganei. Aquilo ali estava pior que hospital público. Era gente sendo atendida no meio do corredor, umas tantas pessoas esperando sentadas e minha irmã deitada numa maca, também no meio do corredor de emergência. Vez ou outra, ela entrava numa sala para fazer raios x, que eu também fiz, já que também havia pulado da janela. Quando voltava, fazia um escândalo, gritava, pedia para ser medicada e eu sem ter onde colocar a cara de tanta vergonha. Eu até compreendi que a dor deveria estar sendo realmente insuportável, afinal ela estava com os dois pés quebrados, mas confesso que percebi um certo drama na sua cena. Conheço bem a minha irmã e sei o quanto ela é dengosa. Mas isso não vem ao caso. Naquele momento, tudo era válido, pelo menos assim poderiam ficar compadecidos e atendê-la logo. Como tinha trabalho da faculdade, não pude esperar para ver o resultado e voltei para casa. No dia seguinte, comentei com algumas pessoas o que havia acontecido e elas riram, o que eu aceitei passivamente, afinal a história tinha um certo fundo de humor: uma menina de vinte anos se joga desesperadamente da janela, em plena tarde, porque pensou que um ladrão estava invadindo sua casa. E o mais curioso: o ladrão tinha a chave. Confesso que me peguei rindo algumas vezes, contra minha vontade. Mas não achei graça nenhuma quando fui visitá-la no hospital e soube do resultado dos exames: fratura do calcânio (osso do calcanhar) e fratura exposta do pulso esquerdo. Quando entrei no quarto, a vi com as pernas enfaixadas, o braço esquerdo engessado e uma cara de dar dó. Acho que nunca senti amar tanto a minha irmã. E os dezesseis dias passados no hospital me fizeram comprovar isso.
Quando eu poderia imaginar que um dia estaria num leito de hospital, cuidando de minha irmã ainda jovem e agredindo minhas manias de limpeza? Porque eu sou uma pessoa extremamente chata, que acha que qualquer coisa pode estar infectada e que tem nojo de tudo. Entretanto, me vi durantes dias cuidando de minha irmã, pegando sua urina, lavando suas partes íntimas e passando tardes e tardes num hospital, o tipo de lugar mais nojento que existe - sempre lavando as mãos de minuto em minuto, era mais forte do que eu. Mas, para minha própria surpresa, minhas manias e eu eram o de menos naquele momento. Eu só queria saber de minha irmã. E minha vida passou então a resumir-se a faculdade pela manhã, hospital durante a tarde e casa durante a noite. Minha irmã recebia visita a todo instante, mas estar perto nessas horas faz sempre a gente acreditar que tudo pode ficar melhor. E era assim que eu pensava. Como era triste chegar ao hospital e encontrá-la deprimida, se sentindo uma inútil, como ela sempre falava , ver o rosto abatido de minha mãe e em casa presenciá-la chorando todos os dias. E eu também sentia uma enorme vontade de chorar, mas não podia, porque sabia que isso acabaria fragilizando ainda mais as duas. Procurava sempre esboçar um sorriso amarelo, falar alguma palavra de ânimo – embora a maioria delas não convencesse nem a mim mesma -, ou simplesmente fazer companhia, que nesse tipo de situação é importantíssima. Acho que esses foram os dezesseis dias mais arrastados da minha vida. Por fora eu tentava aparentar estar como sempre, mas por dentro estava um caco, sensível, triste.
Desde o segundo semestre do ano passado, eu e minha irmã – Keu, é esse o seu nome - nos mudamos do interior para Salvador, para que pudéssemos fazer faculdade. Nossos pais e irmão continuaram em Catu, a cidade onde crescemos, e então nós moramos sozinhas. Sempre brincamos de uma assustar a outra, fazendo um barulho, fingindo que vinha alguém, mas depois desse dia, resolvemos nunca mais brincar assim. Com o acidente, eu acabei ficando sozinha durante o tempo que ela estava no hospital. Tinha medo vez ou outra, ia logo ver se tinha alguém em casa quando escutava um barulho, mas difícil mesmo estava sendo ficar sem ela. Eu sempre gostei de ficar sozinha no meu canto, tratando de entender minhas próprias idéias, mas já estava enjoada de mim mesma. Minha irmã fazia uma falta imensa, não havia um dia sequer em que eu não pensasse nela e até quem me via no ponto de ônibus percebia que eu estava triste. Desde o dia 16 de abril - se não me engano-, as vezes em que eu ficava realmente feliz eram quando ia vê-la no hospital , até mesmo quando tinha que castigar minha escoliose e carregá-la no colo para tomar banho ou fazer qualquer outra coisa. Ficava pensando que a necessidade faz realmente a especialidade. Eu, uma pessoa que não tem o mínimo dom e muito menos paciência para cuidar de alguém, tive que aprender a fazer isso, ouvir sem reclamar as frases mal-humoradas de minha irmã e, o mais importante, entender que ser sozinho não é nada bom. Descobri de uma maneira muito triste como devemos dar valor às pessoas, pois em um simples instante elas já podem não estar ao nosso lado. E que os irmãos são sim importantes para nós, por mais que muitas vezes neguemos isso. Porém, o difícil de tudo aquilo não era estar aprendendo essa lição, que na verdade me acrescentou muito, mas ter que fingir para os outros e para mim mesma - sou muito cabeça dura e desconfiada e não me sinto à vontade para falar dos meus problemas com ninguém - que estava tudo bem. Afinal, talvez até estivesse. No fundo eu nunca me senti verdadeiramente feliz. Acho que apenas havia encontrado um bom motivo para chorar e afogar as mágoas. Mas naquele momento eu estava sem tempo para pensar nisso. Mais uma vez, minha irmã me chamou : “Anne, quero fazer xixi”.