domingo, 14 de setembro de 2008

Show de vizinha

“Trabalhador é baleado e morto em tiroteio”, “Estudante é estuprada em universidade”. Eu vou vendo o noticiário e ficando estarrecida. Não que a violência seja novidade para mim. Sei bem que o Brasil é campeão nisso e que a nossa cidade (agora também é minha) vive um dos momentos mais violentos. Arrastão, tiroteio, seqüestro relâmpago, estupro. Parece que isso tudo virou coisa muito normal por aqui (ou será que sempre foi?). Aqui. É isso que me deixa maluca! Não é só em São Paulo, no Rio ou em qualquer outro lugar distante, é aqui, onde eu vivo agora. Vinda de uma cidade do interior (ai, que saudade da paz – comparada a Salvador – de minha Catu), cresci num lugar onde crimes de assassinatos e estupros não eram tão comuns. E como eu posso não sentir medo se, enquanto vejo o jornal na TV, escuto o apresentador dizer que o pai de três filhos, que voltava do trabalho, foi vítima de uma bala perdida e morto num lugar tão próximo a mim? Logo ali, no outro bairro, logo ali, no mercado onde eu faço compras, logo ali, na esquina. Logo ali, logo aqui. Ai, esse aqui me incomoda tanto! Sempre me senti segura ao andar pelas ruas da cidade de onde vim, mas agora penso duas vezes até mesmo para ir comprar o pão. Quando eu poderia imaginar, se não fosse em uma caçada jornalística e ganhando para isso, que eu poderia ficar bem no meio de um tiroteio? Quando eu poderia imaginar que ia morar num condomínio de onde saem as drogas de todo o bairro? Assusta. Apavora. A pessoa fica mesmo apreensiva ao sair para pegar um ônibus, desconfia da outra que corre apressada para não perdê-lo e até ensaia reações no caso de ser vítima de um assalto – como se isso adiantasse. Ela pede com mais veemência pela segurança da irmã que está indo para a faculdade, pela própria segurança. E ainda escuta uma amiga falar que já foi assaltada umas três vezes (no meu caso essa amiga é a Elis, minha companheira aqui do blog). “Meu Deus, e se fosse comigo?”. Não sei como reagiria a algo do tipo. Certa vez, um menino roubou o colar de uma amiga minha e eu corri em disparada atrás dele (de vestido, salto alto e tudo). Caímos em plena encruzilhada. Bem, eu não tive nada de heroína ao fazer isso. Na mesma semana, vi passar na TV que um turista havia sido atropelado e morto ao fazer a mesma coisa que eu. Então não, eu não saberia como reagir. Choraria? Gritaria? Prefiro não ser assaltada para descobrir. Além de mais grossa e menos solidária, porque já não abro a porta para quem vem pedir ajuda, me tornei uma medrosa de primeira. Tranco as portas, as janelas, a minha “cara”, e fico da varanda observando o show de vizinha que fui arrumar. Eu, hein, queria mesmo era me mudar daqui!

4 comentários:

Unknown disse...

Amiga que texto ótimo!!!!!!!!!
Vcs já eram um talento, agora nem sei mais como chamar!!!!!Beijos e saudades
PS: Aguem já havia me dito dessa história de vc ter corrido atras do ladrão.RSRSRSRRSRS, só vc msmo!

Elis Chamusca disse...

Tudo o que vc escreveu é a mais pura verdade. Quando que eu chego em casa, após o trabalho (umas 21:30), e meu coração não dispara com medo de assalto? Na verdade eu nem me lembro de quando eu não sentia medo. O pior é que isso se tornou comum, e agora? Como mudar?? Simplismente não muda, só se espera que não piore(se é que é possível)...

Bjus de sua companheira de Blog!

Ps.: Adoro seus textos!

Alguém disse...

A tendência é piorar...

Unknown disse...

Irmã,gostei do texto!Percebi que já está mais familiarizada com os textos que fogem da linha poética!

P.s.:Amo suas poesias,mas é bom ver que seu talento tá se expandindo!