Não sou mal educada.
Não sou grossa.
Muito menos sou metida.
Justificativas?
Sim.
Por que?
Simples.
Eu não tenho cara de gaveta de arquivo-morto (é com ou sem hífen?), pra pegar tudo quanto é tipo de papel que as pessoas dão na rua. É na passarela, no ponto de ônibus, na entrada da faculdade, na porta do banheiro... dentro do banheiro! Em tudo quanto é lugar tem alguém com a mão esticada nos oferecendo um papel de não sei sobre o que, sem nem nos dar um sorrisinho que tente nos convencer a pegá-lo.
É churrascaria que está em promoção, mãe-de-santo que traz o amor de volta em até 3 dias úteis (como se fosse um acerto bancário), alguém que sofre de uma grave doença e precisa da mínima ajuda que seja, transporte escolar, chopada, forró, e não sei mais o que! Dou um sorrisinho mais educado do que simpático, levanto meu dedinho indicador e digo (na verdade dublo): não.
Posso passar por chata o quanto for, me ache antipática quem quiser. Melhor não pegar do que nem olhar pra cara de quem está entregando o papel, aceitar o 'bendito' num gesto robótico, dar dois passos e meio e depois jogá-lo na rua. Aparentemente é um assunto fútil a ser tratado, mas até a futilidade sabe ter a sua importância.
Falsa educação, pra mim, é o fim!
Não é nada educado fazer pouco caso de alguém que está no sol quente ou debaixo da chuva, fazendo um trabalho que, além de parecer super entediante, muitas vezes (quase sempre, na verdade),incomoda quem está com pressa ou simplesmente não gosta mesmo dessas coisas (como eu). E quem trabalha assim, sem dúvida, sabe que é um saco pra quem está passando
na rua e acaba virando alvo. E pegar o papel por educação, continuar conversando no celular ou com a pessoa que está do lado e jogá-lo na rua é puro descaso, é como dizer: 'ó, peguei viu, mas quero ler não, foi só por educação'. Nesses casos (acho que em muitos outros também), um não dublado sabe ter muito mais um tom de explicação do quem um sim que as pessoas dão por pura e simples obrigação.
A convivência é algo difícil.
Dificílimo!
Nem todo mundo entende que nem sempre dá pra estar com um sorriso estampado na cara, nem todo mundo sabe dizer não, nem todo mundo sabe escutar um não. Mas, pior que ouvir um NÃO aparentemente arrogante, é receber um SIM hipócrita. Por isso, não sendo mal educada, grossa e metida, vou continuar sem receber os papéis que me dão na rua, sem agradecer ao motorista quando eu descer do ônibus, caso ele não faça por mim algo além da sua obrigação (dirigir o ônibus!), dizendo 'bom dia', 'boa tarde', 'boa noite' e 'obrigada' quando eu realmente sentir vontade. Porque a convivência vai muito além de frases prontas que aprendemos desde o maternal. Está pra lá de um sorriso sincero, do respeito ao espaço do outro, de uma ajuda espontânea, de não obrigações. Somo sim obrigados a conviver com o outro, afinal, não temos um mundo particular e a sociedade é isso mesmo: um nicho de pessoas diferentes, que precisam saber viver juntas. E quão gostoso é quando tornamos
a convivência pacífica. Mas essa convivência não precisa, de maneira alguma, ser artificial. Sejamos espontâneos. Ouvir frases prontas que muitas vezes são ditas com uma cara amarrada é muito desagradável.
Não quer dizer 'bom dia'? Finja que não me viu, ou olhe pra mim e não diga nada mesmo.
Mas não me cuspa um "bomdi", que mal dá pra ser escutado.
Não peça pra segurar as coisas de quem está em pé do seu lado no ônibus lotado num tom de quem torce pra ouvir um "precisa não, 'brigado''. Não ofereça alguma coisa que está comendo falando repetidas vezes que está morrendo de fome, já pra pessoa não aceitar. Não fique pedindo as coisas, ser pidão é muito feio. Não ria de uma piada sem graça só pra tentar ser bonzinho.
Sejamos espontâneos.
Sejamos sinceros.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Por uma gentileza sincera
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Um comentário:
Faço das suas as minhas palavras. (Y)
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